Sempre há críticas de que o Brasil se tornou um país rodoviarista e que deveria valorizar trens e navios (cabotagem) para transporte a grandes distâncias. De fato, pelas dimensões continentais do País a malha ferroviária e o modal marítimo poderiam estar bem mais desenvolvidos. Hoje cerca de 70% das mercadorias são transportadas por caminhões, mas este não é um cenário muito diferente da Europa e também dos EUA. Se considerado o valor da carga, os caminhões americanos respondem por algo em torno de 60% do transporte de bens. Lá se vende um milhão de unidades por ano, seis vezes acima do comercializado aqui. No entanto, há uma diferença fundamental: a qualidade das estradas. Nisso estamos incomparavelmente atrasados em relação a países com grau semelhante de estágio econômico ou mesmo abaixo. Dessa forma, à exceção das ótimas autoestradas no Estado de São Paulo, que pouco ou nada devem às melhores do mundo, viajar de carro no Brasil ainda significa estar sujeito a um nível de risco intolerável. O problema se agrava além de erros de projeto, qualidade da pavimentação e falta crônica de um programa mínimo de conservação, inclusive da sinalização horizontal e vertical. Grande parte das rodovias é de pistas simples, o que agrava a insegurança do tráfego, considerando o número de veículos pesados dividindo a mesma via com automóveis e outros veículos leves. Em recente Audiência na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, em Brasília, o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, afirmou que para "modernizar totalmente os 56 mil quilômetros de rodovias [federais] brasileiras, são necessários R$ 30 bilhões de reais anuais durante oito anos". O orçamento anual do Dnit é de somente R$ 10,3 bilhões. Não ficou claro se essa "modernização" significa duplicar estradas com tráfego saturado e aumentar a segurança. Por esse desCompasso entre orçamento e necessidades de verbas já dá para desconfiar que estradas novas, nem pensar. O Brasil possui cerca de 150.000 quilômetros de rodovias pavimentadas, incluídas as estaduais e municipais. Uma malha ridícula para a superfície de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do País, mesmo desconsiderando áreas de florestas e rios. Pagot apontou, com razão, as dificuldades no licenciamento de obras. "Uma caverna aqui, uma aldeia indígena ali, terras de quilombolas acolá e as licenças não saem", queixou-se. Mas a lentidão do Dnit e seu planejamento falho não podem ser esquecidos. Rodovias pedagiadas em maior número, apenas para manutenção e sinalização, há muito já deveriam estar licitadas. O departamento parece se agarrar às benesses políticas, sobrepondo-as à eficiência administrativa. Juntamente a essa atrapalhação rodoviária vem o projeto do trem de alta velocidade na rota Campinas - São Paulo - Rio de Janeiro. Ao custo estimado espantoso de R$ 35 bilhões no mínimo, com traçado difícil e perfil topográfico inadequado, pouco vai colaborar para que mais pessoas tenham o mínimo de segurança ao se deslocar. E caminhões continuarão, por falta de opção, se apertando em meio aos carros nas estradas
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